Cavalos de alta performance podem chegar a valer 5 milhões de euros. Esporte milionário tem seu lado ‘rústico’ e envolve muita dedicação e treinamento

O ambiente é rústico, remete ao passado, bastante ligado ao campo e às culturas do interior. Mas a atividade praticada ali está longe de refletir essa simplicidade. O hipismo, esporte olímpico com mais de 100 anos de história, envolve técnica, concentração, precisão. E claro, cavalos de altíssima performance.
Neles estão depositados quase todo o valor do hipismo, tanto do ponto de vista esportivo quanto financeiro. Um cavalo de primeira linha pode chegar a custar 5 milhões de euros no mercado internacional.
A valorização é considerável. Aqui no Brasil, por exemplo, um cavalo que está chegando à sua fase de alta performance pode ser comercializado por R$ 700 mil a R$ 1 milhão. Sendo que, mais ou menos cinco anos antes de atingir esse ápice, quando ele começa seu treinamento, seu custo gira em torno de R$ 50 mil.
“Não existe uma tabela de preço assim como existe para os carros. Tem cavalos que, por causa da própria postura psicológica dele, por causa da maneira como ele encara a competição, são extremamente valorizados. Os preços são inimagináveis. Vendem-se esses cavalos a todo tempo por 1, 2, 3, até 5 milhões de euros. Existe esse mercado, que é superativo, tem uma demanda gigante. Esses cavalos existem. Esses valores existem”, conta Daniel Mello Gobbo, proprietário da Hípica Villa Real.
Segundo Gobbo, por causa justamente desses valores é que cavalos ligados ao hipismo são um forte meio de investimento em diversas regiões do mundo, como Estados Unidos e Europa. No Brasil, o mercado vem ganhando força a cada ano.
No hipismo, são duas opções, basicamente, para se ter um cavalo de alta performance. A primeira é adquirir um já preparado, desembolsando esses altos valores. A segunda é preparar o animal, mas para isso é preciso muito estudo, análise e paciência.
O cavalo precisa ter aptidão física e psicológica. Ele passa por avaliação morfológica, de pedigree, de linhagem, exames veterinários para avaliar sua formação, se houve lesão óssea, sua capacidade respiratória, entre outros critérios. Para uma boa compra, há ainda a questão do temperamento. “Existem cavalos que são naturalmente submissos, mais fáceis de serem treinados”, afirma Gobbo.
Vencidas todas essas etapas, começa o treinamento. A partir daqui começa o que se pode traduzir como um “investimento a longo prazo”. Por fim, o desempenho em competições também ajudará a estabelecer o valor do animal.
“Esse cavalo é avaliado segundo resultados. No esporte não há subjetividade. Quando você compra um potro começando a carreira, compra um sonho. É você quem vai lapidar esse diamante. Então, a partir de quando o cavalo começa a competir, ele vai valer o que ele apresenta numa situação de estresse, que é a situação de competição”, diz o instrutor.
Cuidados diários
Um cavalo atleta exige uma série de cuidados no dia a dia. Por trás dele estão quatro pessoas que lidam diretamente com as questões relacionadas à sua performance: ferrador, veterinário, tratador e cavaleiro. São eles os responsáveis por alimentação, saúde, preparo físico, treinamento e equipamentos.
E nessa parte os custos também são altos. A manutenção completa de um cavalo na hípica gira em torno de R$ 1,7 mil e R$ 1,8 mil por mês.
Paixão que vem da infância
A médica Maria Fernanda Martinelli Trabulsi e o diretor nacional corporativo da MoveEdu, Antônio Álvares Miranda Neto, o Tony, são dois apaixonados por cavalos, pelo hipismo, e verdadeiros entusiastas do investimento nos animais. E ambos compartilham uma conexão com os animais desde muito cedo, ainda crianças, resgatada depois de adultos.
“Sou apaixonada por cavalos desde que me entendo por gente, mas o hipismo conheci há seis anos, e é a realização de um sonho de infância para mim. Estar com cavalo, os meus cavalos. Conhecer a personalidade de cada um”, conta Maria Fernanda.

Já Tony era habituado a andar a cavalo na fazenda de seu avô, no interior da Bahia, e resgatou essa paixão quando se mudou para Rio Preto, há cerca de três anos.
“Vimos a possibilidade de fazer nosso filho ter esse convívio saudável com os animais, com o cavalo, especialmente, e se beneficiar disso, como esporte, bem-estar, pela relação positiva com amigos. Foi quando o introduzimos no hipismo, e foi inevitável, vendo meu filho saltar, despertar esse sentimento que já estava adormecido e que me fazer voltar a praticar o esporte”, explica.
Maria Fernanda adquiriu seu primeiro cavalo em 2015 e, de lá para cá, não parou mais. Já são cinco animais, entre eles o Carthano Jmenum BH – o animal brasileiro de hipismo, raça oficial brasileira de cavalos de competição. É um dos mais valiosos da hípica.
“Cavalo de hipismo custa caro, é preciso ter alguém com visão para reconhecer um cavalo bom, técnico, com potencial, mas que por algum motivo está ‘descartado’, por ter algum trauma, pela montabilidade mais difícil, alguma coisa que o deixou desvalorizado. Depois, é necessário investimento em cuidados, treinamento adequado, rodar com ele em competições, e ter paciência, porque cada cavalo tem seu tempo de ‘despertar’.”
No entanto, Maria Fernanda não encara a paixão como investimento. Para ela, é amor incondicional pelos cavalos. “Queria todos para mim, principalmente aqueles difíceis de lidar, que ninguém quer.”

Já Tony possui um animal para competições e montarias do dia a dia, um potro que está sendo preparado para provas mais fortes e quatro potras recém-desmamadas, crias de animais consagrados e descendentes das melhores linhagens de animais para hipismo.
Qualidade de vida
O hipismo e a equitação oferecem uma série de benefícios comprovados. Promovem o equilíbrio, autocontrole e aumento da autoestima. No entanto, ainda são pouco acessíveis para a maioria, não só pelo investimento, mas pelo desconhecimento.
Na Hípica Villa Real, são quatro tipos de equitação disponíveis: terapêutica, lúdica, escolinha e a própria competição. Cada tipo recomendado para uma faixa de idade, mas todos possíveis de serem praticados desde muito cedo.
“Seria muito bom se a gente conseguisse fazer do hipismo um esporte mais popular. Fazer com que os pais entendam que não existe nenhuma terapia mais eficaz para uma criança do que a natural. Quer coisa mais natural para uma criança que não tem uma mobilidade comum que subir em um cavalo e imitar o movimento que o cavalo faz? A criança sente no músculo da perna dela o cavalo se mexendo. Esse é o princípio da equoterapia”, diz o instrutor Daniel Gobbo.
O contato com os animais e com a natureza também ainda ensina sobre dedicação e disciplina. “Quando estamos em cima do cavalo, nos tornamos um só. É uma relação intensa de troca, de respeito, carinho, equilíbrio, envolve lições de coletividade, de amizade, companhia e também de limites, afinal, o cavalo tem vontade própria, ele só faz aquilo que ele tem vontade de fazer ou que foi treinado e entende o que deve fazer. Para as crianças, há muitos benefícios físicos e emocionais”, acrescenta o criador Antônio Álvares Miranda Neto, o Tony.
Fonte: É Rio Preto (Salto para a Fortuna).
